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Interferência dos Dispositivos Celulares na Educação (parte 3).

Foto do escritor: Fernando NicolauFernando Nicolau

"A dependência do celular é uma ameaça à nossa saúde mental e física. Devemos aprender a equilibrar o uso de tecnologia com a interação humana real." - Sherry Turkle (Massachusetts Institute of Technology).


Sabia que o simples fato de ter um aparelho celular à vista pode prejudicar a capacidade cognitiva e reduzir a eficiência mental dos estudantes?

Impacto dos Dispositivos Móveis na Saúde Física e Mental.

Diversos estudos que sugerem que a simples presença do celular pode afetar a capacidade cognitiva, mesmo que o sujeito não o esteja utilizando. Um dos estudos mais conhecidos foi publicado na revista Journal of the Association for Consumer Research em 2017, e foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Texas, nos Estados Unidos(Ward et al., 2017). Voluntários foram convidados a realizar uma série de testes de cognição, que avaliavam habilidades como a memória de trabalho, a capacidade de resolução de problemas e a concentração. Divididos em três grupos: um grupo que manteve o celular no bolso, outro grupo que deixou o celular em outra sala e um terceiro grupo que manteve o celular em cima da mesa (Thornton, 2014). Os resultados indicaram que os participantes que mantiveram o celular na mesa apresentaram pior desempenho nos testes de cognição, em comparação com os participantes que mantiveram o celular no bolso ou em outra sala. Os pesquisadores sugerem que a presença do celular na mesa pode "roubar" parte da atenção do indivíduo, mesmo que ele não esteja usando o aparelho ativamente. O impacto à "disponibilidade cognitiva" dos participantes se caracterizou por perda de uma quantidade de recursos mentais disponíveis. (Barr et al., 2016)

Pesquisadores da Universidade de Chicago, em 2017, publicaram na revista científica Social Psychology um estudo sobre o impacto do celular na atenção das pessoas durante uma conversa face a face. A amostra foi composta por 448 participantes instruídos a discutir um tópico pessoal por 10 minutos. Em um dos grupos, o celular foi deixado em cima da mesa durante a conversa; no outro grupo, o celular foi mantido em outra sala. Os resultados mostraram que a presença do celular na mesa reduziu a qualidade da conversa e a conexão emocional entre os participantes. Além disso, os participantes que tiveram o celular na mesa relataram sentir menos empatia e menos satisfação com a conversa do que os participantes do outro grupo. (Przybylski et al., 2017)

De acordo com um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano dos Estados Unidos, o uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode ter efeitos negativos na saúde mental das crianças, incluindo ansiedade, depressão e problemas de sono (Twenge et al., 2018). A revista BMC Public Health sugere que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode levar a problemas de comportamento e dificuldades de aprendizagem em crianças (Hale & Guan, 2015).

Problemas relacionados à saúde mental, como ansiedade e depressão, que normalmente possuem origem multifatorial, podem estar ligados diretamente e prioritariamente a esse uso excessivo do celular (Yang, 2010).


Dispositivos Celulares, Saúde Oftalmológica.


"É importante lembrar que as tecnologias foram criadas para serem nossas ferramentas, não nossos mestres. Devemos ter cuidado para não deixar que a tecnologia controle nossas vidas." - Douglas Rushkoff, (City University of New York).

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, examinou a relação entre o uso de dispositivos eletrônicos e a fadiga ocular em crianças e adolescentes (Rosenfield, 2016). Os pesquisadores avaliaram dados de mais de 1.000 crianças e descobriram que aquelas que usavam dispositivos eletrônicos por mais tempo tinham maior probabilidade de experimentar fadiga ocular. O estudo foi publicado no jornal científico Acta Ophthalmologica (Jaiswal et al.,2015). Neste mesmo ano, um estudo foi publicado no jornal científico Jama Ophthalmology (Rosenfield, 2016).

Outro estudo realizado na China analisou a relação entre o uso de dispositivos eletrônicos e o aumento da miopia em crianças em idade escolar (Foreman, 2021). Os pesquisadores coletaram dados de 1.300 crianças e descobriram que aquelas que usavam dispositivos eletrônicos por mais tempo tinham maior probabilidade de desenvolver miopia. O estudo foi publicado no jornal científico Ophthalmology em 2015.

Dois anos depois os pesquisadores da Universidade Nacional de Singapura apresentaram um trabalho que investigou a relação entre o tempo gasto em atividades ao ar livre e o desenvolvimento de miopia em crianças em idade escolar (Dirani et al., 2017). Os pesquisadores avaliaram dados de mais de 1.200 crianças e descobriram que aquelas que passavam mais tempo ao ar livre tinham menor probabilidade de desenvolver miopia. O estudo foi publicado no jornal científico Ophthalmology em 2017. No ano seguinte, outro estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Toledo, nos Estados Unidos, examinou a relação entre o uso prolongado de dispositivos eletrônicos e o desenvolvimento de miopia em crianças e adolescentes (Kim, 2026). Os pesquisadores avaliaram dados de 106 crianças entre 6 e 12 anos de idade e descobriram que aquelas que usavam dispositivos eletrônicos por mais tempo tinham maior probabilidade de desenvolver miopia.

Esses estudos, entre outros, sugerem que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode contribuir para o aumento da miopia em crianças e adolescentes. No entanto, é importante lembrar que outros fatores também podem desempenhar um papel na miopia, e mais pesquisas são necessárias para entender completamente a relação entre o uso de dispositivos eletrônicos e a saúde ocular.


Dependência em Dispositivo Celular, Vício e a Nomophobia.


“O aumento da utilização dos ‘smartphones’ está gerando preocupações em relação ao futuro da humanidade.” (Harari, 2017).

Precisamos inicialmente trazer um estudo publicado no Journal of Public Health Policy em 2009, que examinou as evidências de interferência da indústria de telecomunicações na pesquisa sobre os efeitos do uso de telefones celulares na saúde. Os autores argumentam que a indústria pode ter influenciado a pesquisa de várias maneiras, incluindo o financiamento de pesquisas favoráveis, a seleção de cientistas favoráveis e a distorção de resultados de estudos para minimizar o risco associado ao uso de telefones celulares (Dolan, 2009), no entanto, em 2023, já temos trabalhos suficientemente robustos para promover uma ampla divulgação e alerta para pais e educadores. Além de todo impacto e as consequências físicas, psíquicas, cognitivas, emocionais e de construção sensorial, ainda temos a possibilidade de adição.

A dependência dos smartphones e outros dispositivos eletrônicos pode ser entendida como uma forma de vício comportamental ou "comportamento aditivo" (Volkow et al., 2016). Acredita-se que a adição se desenvolve através de mecanismos de recompensa no cérebro que são ativados pelo uso frequente e repetido desses dispositivos.

O mecanismo cerebral de recompensa que é acionado pelo uso de smartphones e dispositivos eletrônicos envolve a liberação de dopamina no cérebro (Volkow et al., 2016). A dopamina é um neurotransmissor que é liberado em resposta a estímulos prazerosos e reforça comportamentos que levam a essa sensação de prazer. Estudos mostram que o uso de smartphones e dispositivos eletrônicos pode levar à liberação de dopamina no cérebro, o que pode levar a um ciclo de recompensa e busca por mais estimulação (Lin et al., 2014).

Um estudo realizado em 2018 pela revista Nature Reviews Neuroscience, sugere que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode levar à redução da substância cinzenta no córtex pré-frontal, uma região do cérebro envolvida no controle cognitivo, tomada de decisões e comportamento impulsivo (Volkow et al., 2016). Outro estudo, realizado em 2016 pelo Journal of Behavioral Addictions, concluiu que o uso excessivo de smartphones está associado a níveis mais elevados de ansiedade, depressão e estresse (Seo et al., 2016). A pesquisa também destacou que o uso prolongado de dispositivos eletrônicos pode levar a um estado de "hipervigilância" ou sensação de alerta constante, que pode prejudicar a qualidade do sono e a saúde mental em geral (Lin et al., 2014).


Dispositivos Celulares e Sedentarismo.


"As crianças precisam de tempo para brincar, imaginar e interagir com o mundo real. O uso excessivo de tecnologia pode prejudicar o desenvolvimento cognitivo, emocional e social." - Jenny Radesky

Os dispositivos eletrônicos, especialmente o telefone celular pode contribuir para uma acomodação física e a falta de exercícios, já que a utilização excessivo do celular pode ter um impacto significativo na saúde física e mental. Aqui estão alguns dos efeitos negativos mais comuns:

  • Problemas musculoesqueléticos:

O uso prolongado do celular pode levar a dores musculares e articulares, principalmente no pescoço, ombros, braços e mãos. Isso ocorre porque a posição incorreta ao segurar o celular pode causar tensão nos músculos e ligamentos. (Toh et al., 2017)

  • Sedentarismo:

O uso excessivo do celular pode levar a um estilo de vida sedentário, o que aumenta o risco de doenças crônicas, como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e osteoporose. (Vasconcellos et al., 2022)

  • Problemas de sono:

A exposição à luz azul emitida pelas telas dos celulares pode afetar o sono, causando insônia ou interrupções no sono. (Chellappa et al., 2013)

  • Problemas de saúde mental:

O uso excessivo do celular pode levar à ansiedade, depressão e solidão, pois a interação online pode substituir a interação face a face e o contato humano real. (Nascimento, 2020)

  • Nomofobia:

Nomophobia é a abreviação de "no-mobile-phone phobia". O termo é utilizado para descrever a ansiedade e o medo exacerbado de estar sem o celular ou de não poder usá-lo. Esse é um fenômeno cada vez mais comum na era dos smartphones, afetando pessoas de todas as idades. Os sintomas incluem ansiedade, agitação, irritabilidade, dificuldade de concentração e pânico (Durak, 2019).

  • Problemas de postura:

A postura incorreta ao usar o celular pode levar a uma curvatura excessiva da coluna vertebral, o que pode resultar em dores nas costas e pescoço (Lee et al., 2015). Os pesquisadores descobriram que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos, como celulares, computadores e videogames, estava associado a níveis mais baixos de atividade física. As crianças que usavam dispositivos eletrônicos por mais de duas horas por dia tinham um risco maior de serem sedentárias e tinham níveis mais baixos de atividade física. Também descobriram que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos estava associado a um maior risco de obesidade, diabetes e doenças cardíacas em crianças e adolescentes. Além disso, o estudo mostrou que as crianças que passavam mais tempo ao ar livre tinham níveis mais altos de atividade física e menor uso de dispositivos eletrônicos.(Pearson, at al, 2011).



Fig.1.Percentuais_acesso_internet_e_dispositivos_móveis


Referências.


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CHELLAPPA, Sarah L. et al. Acute exposure to evening blue‐enriched light impacts on human sleep. Journal of sleep research, v. 22, n. 5, p. 573-580, 2013. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/jsr.12050 Acessado: 30/04/2023

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